A Regra de Ouro
Em meu livro “Os Caminhos do Amor em Bread & Joy”, Frank, o personagem principal, recebe durante um período turbulento de sua vida a mentoria de seu avô Benedict, um ancião sábio e espiritualista. Benedict divide com Frank sua sabedoria, materializando-a em conselhos e lições que o neto, porém, só virá a assimilar ao longo do tempo.
Dada a profundidade de tal sabedoria, vez por outra farei uso deste rico material para nossas reflexões. Como primeiro esforço nesse sentido, escolhi uma das diversas afirmações contidas numa lista feita por Benedict para que Frank as lesse diariamente na busca de seu desenvolvimento pessoal.
A afirmação escolhida diz o seguinte;
“Usarei todas as oportunidades que a vida me der para ajudar outras pessoas.
Tratarei os outros como eu gostaria de ser tratado, mesmo que eu não o seja.”
Agora pensemos sobre este desafiador conselho de Benedict de forma mais atenta.
Diariamente a vida nos apresenta oportunidades de ajudar o nosso próximo. Porém, gostaria de questionar: quem é exatamente esse tal “próximo”? Por vezes tenho a sensação de que, por ser tal expressão algo um tanto vaga, ela acaba nos dando espaço para defini-la de forma um tanto flexível e autocentrada, e em determinados momentos acabamos inconscientemente levando a cabo ações beneméritas de maneira seletiva e até mesmo oportunista. Ajudamos ao chefe, ao melhor amigo, ao vizinho favorito, e à pessoa que queremos atrair para nossas vidas, seja lá qual a razão de nosso interesse. E não há nada de errado em ajudar tais pessoas quando a oportunidade se apresenta. Porém, se pensarmos bem a respeito, será inevitável admitir que o próximo é também aquele funcionário que nos reporta e que não está performando bem; é aquele amigo sumido que não estava passando por uma boa fase; é também o vizinho que não nos cumprimenta. Mas, muito mais importante, o próximo é também aquele que não conhecemos e que nos pede auxílio na rua; é aquela mãe que procura atendimento médico para o filho sem ter recursos para pagar; é o morador de rua que pede um prato de comida; é o drogado que procura antídoto para sua dependência. E mais seriamente ainda, o próximo também é aquele que vive no pecado; é aquele que tem outra cor de pele ou credo; é também aquele de opção sexual alternativa.
Frequentemente somos colocados à prova no exercício do amor fraterno para com toda esta diversidade de “próximos”. Que escolhas estamos fazendo nesses momentos? Que processos seletivos, por vezes inconscientes, estamos usando para orientar nossas boas ações? Só esse ponto já demandaria uma revisão de nossas posturas.
Mas Benedict não para por aí, pois logo na sequência evoca a famosa “regra de ouro”, que se faz presente em diversas religiões, pedindo para que Frank trate aos demais como ele gostaria de ser tratado. Em minha modesta opinião, nada retrata melhor o mandamento de amar ao próximo como a ti mesmo, que esta regra tão simples, mas de tão difícil aplicação.
Imagine que, se a cada ação que formos tomar para com os diversos “próximos” em nossas vidas, fizéssemos a mais simples e objetiva pergunta; se fizessem isso a mim, como eu me sentiria?
Exemplificando em termos práticos; antes de buzinar e xingar alguém no trânsito, façamos tal pergunta. Façamos também antes de tratar um humilde de forma arrogante e superior. Façamos tal pergunta antes de fazer um comentário prejudicial sobre uma pessoa que não está presente. Antes de repassar aquela mensagem de texto recebida que denigre a imagem de alguém, e que nem sabemos se é verdade, perguntemo-nos. Antes de tratar o cônjuge de maneira não amorosa, perguntemo-nos. Antes de fazer com que alguém de opinião diferente da nossa pareça estúpido por assim pensar, perguntemo-nos. Antes de tratar com preconceito pessoas de outras raças, religiões e orientações sexuais, perguntemo-nos. Antes de explorar um empregado sem prover-lhe a justa remuneração, perguntemo-nos. Estou certo de que nossas ações passarão a ser diferentes, afinal, será como acender uma luz em nossa consciência. Mas vou te convidar a ir um passo além. Perguntemo-nos também como gostaríamos de ser tratados nessas mesmas situações, e tentemos aplicar a resposta. Nesse momento começaremos a vislumbrar o caminho da prática do amor fraterno. E se lograrmos executar a ação sugerida, estaremos finalmente então, exercendo-o.
Mas Benedict não nos dá descanso e vai ainda mais longe. Ele nos recomenda executar tais ações de amor fraterno, mesmo que a recíproca não seja verdadeira. Mesmo que não nos tratem de maneira amável. Afinal meus amigos, fazer o bem baseando-se no amor, não é comércio. Não é “toma lá, dá cá”. Trata-se de fazer o bem, não importa a quem, e sem condições.
Quando chegarmos a esse nível, estaremos finalmente realizando o amor ao próximo no sentido pleno. Desafiador? Sem dúvida. Nunca nos disseram que seria fácil. Mas este é o caminho. Talvez o único caminho para transformar de forma permanente o nosso mundo tangível (para melhor entender o que chamo de mudar o mundo tangível leia “Fazendo a Diferença” do meu livro “Flores na Varanda”).
Comecemos então a aplicar a regra de ouro cultivando o saudável hábito de nos perguntar; como eu gostaria de ser tratado nessa situação se estivesse no lugar deste “próximo”?
Prontos para tentar?