O Que os Altos e Baixos da Vida Nos Ensinam?

O monge aprendiz aproximou-se do mestre, que se encontrava em uma cama a beira da morte, e lhe perguntou;

_ Mestre, o que será de mim quanto te fores? Já não mais terei tuas sábias lições e conselhos. Estarei a mercê deste mundo cheio de dores e ilusões.

Reunindo o pouco das forças que ainda lhe restava, o mestre lhe respondeu.

_ Não se preocupe meu estimado discípulo, lhe deixarei algumas lições por escrito, mas deverás seguir à risca, minhas orientações.

Sentindo-se um pouco menos angustiado, o discípulo concordou de imediato, e se foi, deixando que seu mestre trabalhasse na tarefa proposta.    

              Na manhã seguinte, o discípulo foi visitar seu mestre como sempre fazia, e veio a saber que ele havia falecido durante a noite. Desolado, o jovem pôs-se a chorar, lamentando sua perda. Ficou ainda mais desconsolado, quando imaginou que o mestre provavelmente não havia tido tempo suficiente para deixar as prometidas lições por escrito.

              Após a funeral, o rapaz decidiu-se por ser forte e foi ajudar na limpeza e remoção dos pertences do falecido de seu humilde quarto, para que este pudesse ser ocupado por outro monge. Ao chegar ali, foi surpreendido por dois envelopes, que pareciam conter muitas folhas de papel. Ambos estavam endereçados a ele e continham mensagens escritas pelo mestre. Na face do primeiro envelope, lia-se; “Para abrir quando houver muita dor”. No segundo, lia-se; “Para abrir quando houver muito júbilo”.   

Ansioso pelas novas lições deixadas em seu nome, o discípulo teve o ímpeto de abrir os envelopes de imediato, porém, de repente se conteve, lembrando das instruções claras do mestre. “Deverás seguir à risca, minhas orientações”.

Lendo mais uma vez as mensagens em cada um dos envelopes, o rapaz se resignou e entendeu que aqueles novos ensinamentos não eram para aquele momento. Eram para ser usados em duas situações bem especificas. Guardou então os envelopes em uma gaveta e os reservou para momentos futuros.

Desiludido com a perda do mestre, deixou de ser monge e voltou para a casa dos pais.

Passados alguns anos, o rapaz já não tão jovem, passou por um momento de infortúnios. Perdeu os pais, seus irmãos se mudaram, perdeu seu emprego e sua namorada o deixou. Estava desesperado. Não tinha dinheiro, não tinha trabalho, não tinha ninguém. Teve de mendigar para comer e sentia-se sozinho no mundo. Numa noite de solidão, onde seu estômago doía de fome e seu coração sofria pelas ausências daqueles que amava, ele chegou ao seu limite e pensou em terminar com sua jornada ali mesmo.

Começou então a procurar algum objeto cortante que poderia ajudá-lo a fazer o corte final, e ao abrir a velha gaveta, deparou-se com os envelopes deixados anos atrás pelo seu velho mestre.

Tomou então em suas mãos o envelope reservado para os momentos de dor e o abriu avidamente. Como esperava, encontrou diversas folhas de papel, porém pareciam estar todas em branco. Frustrado, começou a revisar folha a folha, até que na última encontrou a seguinte mensagem;

“Acalme-se e siga adiante. Tudo isso passará”.

Maravilhado com a lição que o mestre lhe havia deixado para dias de dor, o rapaz pôs-se a chorar, mas dessa vez, não de sofrimento, e sim de esperança. Serenou então seus ânimos, desistiu da ação desesperada que estava prestes a tomar e resolveu seguir adiante por mais um dia.

Muitos e muitos anos depois, nosso rapaz, já um homem adulto, havia logrado evoluir na vida. Tinha encontrado trabalho duradouro e com suas economias, havia adquirido um pequeno pedaço de terra, onde produzia algo que vendia na feira da cidade com muito êxito.

Com a prosperidade, vieram também novas companhias, novas amizades e, finalmente, uma noiva. Casou-se, teve filhos e construiu um lar que o fazia extremamente feliz.

Um belo dia, nosso rapaz olhou a sua volta e orgulhou-se de sua próspera propriedade, admirou sua bela esposa e deliciou-se com suas crianças brincando e gargalhando, felizes com o lar que tinham. Ele então estufou o peito e lembrou do dia em que quase terminou com sua própria vida. Pensou então; “ainda bem que encontrei a mensagem de meu velho mestre”.

Naquele momento lembrou-se de que existia ainda um segundo envelope. Aquele que estava guardado para um dia de júbilo. Correu então para a velha escrivaninha e, revirando a gaveta, encontrou o que buscava.

Mais que depressa, abriu o envelope e deu-se conta que este também tinha várias folhas em branco.

Já conhecedor dos gracejos de seu mestre, ele foi direto até a última página e lá, encontrou a seguinte mensagem.

“Aproveite o momento, mas lembre-se. Isso, também passará”.  

Comovido com a sabedoria de seu mestre, o discípulo aprendeu então sua maior lição. Não vale a pena desesperar-se por situações de dor e sofrimento, pois estas são momentâneas. A vida segue, e logo novos acontecimentos e novas situações se apresentarão, e as dores e sofrimentos também sessarão.

Porém, é importante também ter em perspectiva, que não devemos nos iludir com os momentos extremamente favoráveis. Estes podem se tornar grandes geradores de orgulho danoso e a falsa e arrogante percepção de que somos superiores aos demais. Tais situações também são momentâneas e trarão consigo suas próprias responsabilidades.

O importante é seguir adiante, um dia após o outro, aprendendo as lições que os altos e baixos da vida nos trazem.

Tudo passa.

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