Mas o que é mesmo essa tal empatia?

Conforme mencionei em meu texto publicado em julho de 2022, quando falei sobre a “regra de ouro”, vez por outra farei uso de frases e exemplos de sabedoria aplicados pelo velho Benedict, personagem de meu livro “Caminhos do Amor em Bread & Joy”, para ilustrar e enriquecer os temas que estarei abordando. Hoje a frase de Benedict escolhida é a seguinte;

“Para entender meu próximo, colocar-me-ei em seu lugar e sentirei suas dores e alegrias.”

Evidentemente estamos falando da habilidade de sentir empatia. Conceito citado por muitos (quiçá todos) os líderes religiosos e espiritualistas, mas infelizmente pouco explorado em sua essência, sendo essa a nossa ambição de hoje.

E para começar, gostaria de perguntar: o que é, afinal de contas, essa tal de empatia?

Se resolvermos consultar o velho e bom dicionário, encontraremos algumas definições. Para facilitar minha abordagem, escolhi as seguintes: Empatia é a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou agiria. Ou ainda: Empatia é a aptidão de se identificar com o outro, sentindo o que ele sente, desejando o que ele deseja, aprendendo da maneira como ele aprende.

Ao observarmos estas duas definições, que em minha modesta opinião se complementam, podemos entender que, para empatizarmos com alguém, não devemos simplesmente “nos colocar em seu lugar”. Temos que nos transportar para a situação em que essa pessoa se encontra e buscar replicar em nossas mentes e corações, todas as condições em que essa pessoa se vê mergulhada.

É muito comum vermos indivíduos dizendo: “Ah, se eu estivesse no lugar de fulano teria agido diferente, teria feito isso ou aquilo”. Ao revisarmos as definições acima, não é difícil concluir que essa observação não passa no teste. Não tem nada de empatia, pois o que tal indivíduo está fazendo é colocar-se a si mesmo em tal situação, e não efetivamente posicionando-se como se fora o outro. Segue pensando com a própria cabeça, interpretando fatos com a própria visão do mundo. Entendem a diferença? Vou tentar exemplificar, e para facilitar tal esforço, criarei um personagem fictício chamado José.

Vamos imaginar por um momento que o José mora numa favela em algum lugar da América Latina, ou num gueto em NY. Sua mãe engravidou dele por acidente, e quando soube da gravidez, seu pai abandonou o lar, sem nunca para lá regressar. Como a mãe não tem como alimentá-lo, ela manda José para a rua logo cedo, no intuito de que ele, sozinho, encontre como comer e como se cuidar. José nunca frequentou a escola de maneira consistente e jamais recebeu qualquer orientação religiosa ou espiritual. Aprende as coisas da vida com os garotos mais velhos que vivem na rua, e pouco sabe dos valores de uma família. José, na verdade, não sabe sequer o que é o amor.

Em meio a essa situação, a José lhe é oferecida a opção de estudar. Porém, um de seus “amigos” se acerca e lhe oferece uma pedra de crack, argumentando que a escola não lhe servirá de nada, e que a droga trará alívio imediato para sua fome e solidão. Em meio ao cansaço e a insegurança de que não será inteligente o suficiente para a escola, José faz a escolha equivocada. Rejeita o estudo e se apega ao crack, de onde jamais retorna.

Se olharmos para a situação acima e a julgarmos com nossos olhos de pessoas educadas, amadas por nossas famílias, criadas em norteadores preceitos religiosos e espirituais, jamais poderemos entender a decisão de José, pois estaremos colocando a nós mesmos em seu lugar. E isso não ajudará a empatizar-nos de verdade com ele.

Conforme as definições, temos que “pensar como ele pensa, sentir o que ele sente, desejar como ele deseja, aprender como ele aprende”.

Agora feche os olhos por um momento. Você agora é o José. Você não tem a presença do pai, nem nunca o conheceu, pois este te abandonou antes de você nascer, e sua mãe mais atrapalha que ajuda. As 8 da manhã ela te manda para fora de casa, porém não em direção a um colégio, mas para a selvageria da rua. Você tem fome. Tem sede. Se sente sozinho no mundo e nada preparado para ir a uma escola, onde teme ser mais uma vez rejeitado. Você não tem estrutura para lidar com mais essa possível rejeição. Seus “amigos” só te ensinam violência e a como se defender nessa “selva”. Para você não há saída. Não há perspectiva. Não há futuro.

Será que agora você começa a entender o José? Para isso é preciso sentir com o coração machucado do José, pensar com a cabeça mal preparada e confusa do José, ter as referências de vida do José, sua cultura da rua, sua família (ou falta de), sua ausência de amor e de uma crença em Deus, e a expectativa nada promissora de um futuro com alguma significância.

Uma vez feito esse exercício talvez comecemos a entender, ainda que de uma forma bastante remota, como o José pensa, sente, processa o mundo a sua volta e toma suas decisões. E julgá-lo deixa de ser um exercício tão rápido e elementar.

Se você foi capaz de fazer tal exercício de empatia e conseguiu realmente ver o mundo com os olhos do José, te convido a fazê-lo novamente diversas vezes, especialmente com pessoas que você julga de forma negativa e/ou inferior. Procure ver o mundo desde a perspectiva da pessoa envolvida, e tenho certeza de que seu juízo sobre ela demandará naturalmente uma revisão. E finalmente então, como disse Madre Teresa, se conseguir deixar de julgá-la, talvez encontre o necessário espaço para poder aceitá-la e amá-la.

Só a verdadeira empatia, permeada de humildade e caridade, tem o poder de provocar essa transformação mágica, pois quando mudamos a forma de ver as coisas, as coisas que vemos, mudam.

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